“Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniães…”
Guimarães Rosa, Grande sertão: veredas
A revista Opiniães foi criada a partir de uma demanda dos alunos de pós-graduação em literatura brasileira (DLCV-USP), que buscavam espaço em revistas da área para a publicação de seus artigos e ensaios. A dificuldade de aceitação nesses espaços, dado que geralmente privilegiam a divulgação de textos de docentes, e o aumento das exigências de produtividade por parte das entidades de fomento à pesquisa foram duas determinantes práticas para seu surgimento.
No entanto, todo projeto, para se desenvolver e perdurar, necessita algo mais do que motivos burocráticos e curriculares; é preciso mobilização de pessoas em torno de um interesse comum. Nesse caso, a própria prática literária atual, bem como seus sujeitos — autores e leitores, leitores e críticos —, vem se tornando uma das questões para nossa linha editorial, ao lado da divulgação de estudos que atualizam o olhar da crítica, ou então que revelam o processo de formação do crítico num tempo em que a literatura parece acenar cada vez mais de longe.
Durante as primeiras edições, a seção de textos artísticos foi pouco a pouco ganhando um peso (a princípio, no sentido mesmo de carga) maior do que supúnhamos; apesar de ser praxe em muitas publicações, foi questionada e vista como um dispêndio de tempo e de papel, já que ninguém intentava (ou intenta) desvendar um “grande autor”. Mas esse primeiro desinteresse suscitou na comissão editorial certo incômodo — afinal, para que vir a público se optamos por nos furtar ao nosso tempo?
É necessário conhecer a prática literária atual e se dispor a discuti-la em seus valores estéticos, linguísticos e, por que não, éticos (num sentido de intervenção crítica) para reassumir um papel que também cabe à crítica, impedindo que a indústria cultural — seus interesses de mercado e ideológicos — continue os determinando segundo critérios outros que já não dizem mais respeito ao nosso objeto. Também é preciso que novas práticas editoriais, ainda que arriscadas em um mercado que cresceu e se fortalece com a publicação de best-sellers e fórmulas que garantem o sucesso entre o grande público, criem possibilidades para que essa literatura exista materialmente.
Finalmente, a discussão deve ultrapassar o âmbito da universidade — assim como já ocorreu décadas atrás, quando o espaço do jornal era também o da literatura —, mas, para isso, primeiramente temos de estabelecê-lo dentro dela. Com essa finalidade, a revista Opiniães tenta, aos poucos, não só repor debates que já estão colocados, como ainda criar outros que possam, simultaneamente, despertar interesse dentro e fora da universidade.
Equipe da revista Opiniães
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